segunda-feira, 9 de abril de 2012

Adolescência => A era das descobertas – parte 1


Aos treze anos as coisas mudaram muito em mim. Mentalmente eu já não me satisfazia mais com as bonecas nem com os folguedos infantis. Pêlos começaram a brotar em quase todas as partes. Minhas mãos passaram a ter vida própria e se endereçavam as partes baixas de minha alterada anatomia... Até que era gostoso mas mamãe reprovava veementemente. Minhas blusas tiveram que ser todas trocadas porque em pouco tempo ganhavam um par de furos na frente porque os bicos de meus seios ficaram duros como osso e apontados como um lápis só que apontados para o céu...

 Não só eu passei por isso. Toda a turma que estava agora na sétima série, turma 701, estava mudada. Os meninos mais altos com a voz engrossada (menos o Flavinho...). A Juju ganhou uma bunda que dava pra carregar a mochila sem prender as alças. A Sônia ganhou duplo airbag no lugar de seios. Estavamos todos felizes com nossas novas anatomias mas meio confusos sobre o que fazer com aquilo. Na sétima série, nas aulas, eu conheci meu primeiro amor. O professor Aurélio. Era halterofilista... Era enorme (hoje sei que media só 1,80m, mas na época isso era incomum). 

Dava aula de ciências e gostava de falar sobre o corpo humano ilustrando os músculos mostrando os dele próprios (hoje em dia com esse bando de pedagogos hipócritas isso seria condenável...) Mas nós, as meninas, viramos fãs do cara que nos tratava como crianças e isso irritava a todos e especialmente a mim! Eu fui investigar onde vivia; para onde ia depois da aula; se era casado; se tinha filhos; fui fundo nessa de detetive, no que o Flavinho me ajudou. Ficha pronta, preparei meu bote... Descobri que as sextas feiras ele saia da escola e ia para um bar a duas ruas dali, onde encontrava alguns amigos de maromba para conversar, beber e jogar sinuca. Na minha mochila coloquei meu kit mocinha: sapato alto, vestido vermelho decotado, maquilagem e etc. Sabendo para onde ele ia fui até a casa da Ritinha que era próxima da escola e me produzi em seu banheiro de tal forma que fiquei irreconhecível. Oswaldinho já havia me ensinado... Só não botei peruca mas penteei as madeixas de tal forma que ninguém entraria numa escola com o cabelo daquele jeito. Bom, fui ao bar, fiquei esperando sentada na espreita, em uma mesa, tomando guaraná... Alguns marombeiros foram chegando, um, dois, ficha da sinuca... As 20 e 30 chegou o Aurélio. Abraços e (?) beijos.. Uéeé – pensei... Pedem uma fanta uva 2 litros (xii). Aurélio pede um blood mary com guarda-chuvinha e azeitona (xii 2). A coisa estava esquisita... Um deles vai dar uma tacada na bola em posição esquisita e outro vem por trás e orienta e o primeiro DEIXA! (Xii 3). 

Finalmente Aurélio erra a tacada, perde a partida e um outro puxa a cueca dele até escancarar o rêgo mas ao invés de Aurélio dar uma porrada no outro só gemeu e riu (uuiii!!). Xiii, que decepção: Professor Aurélio é gay... Levantei, paguei o guaraná a ao sair observei que o bar tinha uma decoração estranha, efeminada demais para um bar de sinuca, claro, ora bolas, pensei: ERA UM BAR GAY! Que decepção. Meu primeiro amor era gay... Dia seguinte na escola fiquei pensando se contava ou não pro pessoal... 

Não me contive... Final da aula chamei o Aurélio para conversar num canto da sala: Professor, sexta passada minha irmã (mentira) te viu lá no bar da rua tal, da sinuca, era mesmo o senhor? Sim, eu e uns amigos estávamos lá a noite... Porque? Ela comentou que o senhor, seus amigos, seriam o que se chama “rapazes alegres”. É verdade? ELE a chamou para baixo da carteira, abaixou a cabeça e disse... sshhhhhsshhh não fala alto essas coisas... por favor, não comente isso com ninguém!!! Dai pensei: Oh! Então era verdade. Que decepção... Se você nada falar, disse o Professor, eu te recompenso depois... Eu nada falei para protege-lo e esse ficou sendo o “nosso segredo”. A preocupação dele em manter segredo me dava as rédeas da situação. Que vantagens poderia eu tirar disso?

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