Aos treze anos as coisas mudaram muito em mim. Mentalmente eu já não
me satisfazia mais com as bonecas nem com os folguedos infantis.
Pêlos começaram a brotar em quase todas as partes. Minhas mãos
passaram a ter vida própria e se endereçavam as partes baixas de
minha alterada anatomia... Até que era gostoso mas mamãe reprovava
veementemente. Minhas blusas tiveram que ser todas trocadas porque em
pouco tempo ganhavam um par de furos na frente porque os bicos de
meus seios ficaram duros como osso e apontados como um lápis só
que apontados para o céu...
Não só eu passei por isso. Toda a
turma que estava agora na sétima série, turma 701, estava mudada.
Os meninos mais altos com a voz engrossada (menos o Flavinho...). A
Juju ganhou uma bunda que dava pra carregar a mochila sem prender as
alças. A Sônia ganhou duplo airbag no lugar de seios. Estavamos
todos felizes com nossas novas anatomias mas meio confusos sobre o
que fazer com aquilo. Na sétima série, nas aulas, eu conheci meu
primeiro amor. O professor Aurélio. Era halterofilista... Era enorme
(hoje sei que media só 1,80m, mas na época isso era incomum).
Dava
aula de ciências e gostava de falar sobre o corpo humano ilustrando
os músculos mostrando os dele próprios (hoje em dia com esse bando
de pedagogos hipócritas isso seria condenável...) Mas nós, as
meninas, viramos fãs do cara que nos tratava como crianças e isso
irritava a todos e especialmente a mim! Eu fui investigar onde vivia;
para onde ia depois da aula; se era casado; se tinha filhos; fui
fundo nessa de detetive, no que o Flavinho me ajudou. Ficha pronta,
preparei meu bote... Descobri que as sextas feiras ele saia da escola
e ia para um bar a duas ruas dali, onde encontrava alguns amigos de
maromba para conversar, beber e jogar sinuca. Na minha mochila
coloquei meu kit mocinha: sapato alto, vestido vermelho decotado,
maquilagem e etc. Sabendo para onde ele ia fui até a casa da Ritinha
que era próxima da escola e me produzi em seu banheiro de tal
forma que fiquei irreconhecível. Oswaldinho já havia me ensinado...
Só não botei peruca mas penteei as madeixas de tal forma que
ninguém entraria numa escola com o cabelo daquele jeito. Bom, fui ao
bar, fiquei esperando sentada na espreita, em uma mesa, tomando
guaraná... Alguns marombeiros foram chegando, um, dois, ficha da
sinuca... As 20 e 30 chegou o Aurélio. Abraços e (?) beijos.. Uéeé
– pensei... Pedem uma fanta uva 2 litros (xii). Aurélio pede um
blood mary com guarda-chuvinha e azeitona (xii 2). A coisa estava
esquisita... Um deles vai dar uma tacada na bola em posição
esquisita e outro vem por trás e orienta e o primeiro DEIXA! (Xii
3).
Finalmente Aurélio erra a tacada, perde a partida e um outro
puxa a cueca dele até escancarar o rêgo mas ao invés de Aurélio
dar uma porrada no outro só gemeu e riu (uuiii!!). Xiii, que
decepção: Professor Aurélio é gay... Levantei, paguei o guaraná
a ao sair observei que o bar tinha uma decoração estranha,
efeminada demais para um bar de sinuca, claro, ora bolas, pensei: ERA
UM BAR GAY! Que decepção. Meu primeiro amor era gay... Dia
seguinte na escola fiquei pensando se contava ou não pro pessoal...
Não me contive... Final da aula chamei o Aurélio para conversar num
canto da sala: Professor, sexta passada minha irmã (mentira) te viu
lá no bar da rua tal, da sinuca, era mesmo o senhor? Sim, eu e uns
amigos estávamos lá a noite... Porque? Ela comentou que o senhor,
seus amigos, seriam o que se chama “rapazes alegres”. É verdade?
ELE a chamou para baixo da carteira, abaixou a cabeça e disse...
sshhhhhsshhh não fala alto essas coisas... por favor, não comente
isso com ninguém!!! Dai pensei: Oh! Então era verdade. Que
decepção... Se você nada falar, disse o Professor, eu te
recompenso depois... Eu nada falei para protege-lo e esse ficou sendo
o “nosso segredo”. A preocupação dele em manter segredo me dava
as rédeas da situação. Que vantagens poderia eu tirar disso?
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